Joseph Morgan Jr.
Professor e monitor da ABS-Rio e Embaixador dos Vinhos de Bordeaux pelo Conseil Interprofessionnel du Vin de Bordeaux

Em 28 de junho de 2018, tive o prazer de compartilhar um pouco da história da formação dos châteaux de Bordeaux para um grupo de 25 associados da ABS. Foi mais uma degustação em que tenho a oportunidade de transmitir

Um pouco de história
O desenvolvimento das vinhas se deu na região de Graves, a partir do século XI, sendo que nesse período os castelos eram fortificações que desempenhavam uma função de defesa, em localização estratégica, com a viticultura sendo pouco relevante, ficando os vinhedos “fora dos muros”, formando uma “parede verde” ao redor da fortificação. No final da idade média, a atividade de viticultura começa a ter bastante vigor e o conceito de château associado à viticultura começa a tomar forma a partir do estabelecimento de um sistema que aliava interesses econômicos e políticos.

O modelo do château bordalês será aperfeiçoado no século XVIII. Diante do sucesso deste tipo de operação comercial, a nobreza parlamentar começa a construir as adegas (maison de maître) fora dos vilarejos, cercadas por alguns hectares de vinhas, e o château surge como um símbolo, valorizando uma determinada propriedade sob a direção de um nobre da cidade.

Após a Revolução Francesa, passa a ser um símbolo de êxito social. Burgueses, negociantes e mercadores começam a se instalar na periferia de Bordeaux e constroem tudo que é necessário para operacionar uma vinícola: mansão, adega, vinhedos e jardins. Pouco a pouco vão instalando um processo de policultura de forma a buscar autonomia. Aos poucos, deixa de ser somente um símbolo de poder, tornando-se um espaço produtivo e muito lucrativo que denota não só o vinhedo, mas o conjunto de adega e casa dos proprietários que não necessariamente precisa ser um castelo.

O último decreto de 2 de maio de 2012 determina três exigências básicas para se utilizar a palavra “châteaux” em um rótulo:

  • Vinho deve ser um A.O.P. – Appelation d’Origine Protegé (antiga A.O.C).
  • As uvas devem ser aí cultivadas (não podem ser compradas de terceiros).
  • O vinho deve ser produzido na propriedade, dando o direito ao emprego da expressão “Mise en Bouteille au Château”.

De um modo geral, os Petits Châteaux:

  • Não são Grand Cru Classés
    Fora da Classificação de 1855 do Medoc e Sauternes.
    Geralmente fora da classificação de Saint-Émilion.
  • São propriedades familiares.
  • Têm produção em menor escala.
  • Não se incluem nas AOC mais valorizadas (menor custo da terra).

 

Os vinhos apresentados
Para ilustrar este perfil de vinho, foram apresentadas seis amostras de diferentes regiões, das quais expus características de solos, microclima, castas e denominações de origem. Os vinhos escolhidos representaram uma paleta diversa das diferentes regiões de Bordeaux. Fiz uma pesquisa minuciosa buscando vinícolas singulares, de produção pequena e ótima qualidade.

  • Château Reynon Sauvignon Blanc 2016
  • Château Lalaudey 2009 – Cru Bourgeois
  • Vieux Château Saint André 2011
  • Château La Chenade 2010
  • Château Crabitan Bellevue
  • Petit Champ 2016

 

Cada rótulo degustado refletia as características de sua localidade, e todos agradaram muito. Os vinhos tintos eram complexos e já demonstravam traços de evolução. Destaque para o La Chenade 2010, que se mostrou um vinho equilibrado, harmonioso e muito elegante. Vale destacar também o Crabitan Bellevue, cuja harmonização com terrine de gorgonzola e figo foi sensacional.