Roberto Rodrigues
Associado desde 1992, ex-diretor e professor da ABS-Rio. www.rrvinhos.com.br

A Confraria Des Amis du Mouton teve uma noite incomum, em 12/02/2020, ao degustar vinhos de origens diversas: dois do Piemonte, um do Alto Adige, um da China e um francês. Como costume, os vinhos foram degustados às cegas, e nada foi dito sobre a origem dos mesmos.

Foram degustados:

  • Barolo Serralunga d’Alba 2014 DOCG, Rivetto, Itália, Piemonte, US$ 96.00 (Dufry), RR = 89,0 e Grupo = 91,5.

Um Barolo em que a cor, os aromas e o gustativo estavam diferentes, sendo que um aspecto não correspondia ao outro – a cor estava muito granada denotando um vinho com idade avançada, os aromas eram basicamente fragrantes e na boca tinha acidez, mas não corpo. Não parecia um Barolo, muito menos com cinco anos apenas.

  • Barolo Cannubi 2011 DOCG, Damilano, Itália, Piemonte, Eu$ 130,00 (Exterior), RR = 94,0 e Grupo = 93,5 com WS=93.

Um Barolo como deve ser, de uma boa safra e de um excelente produtor. As notas tiveram um pequeno desvio padrão, pois todos reconheceram imediatamente sua qualidade.

  • Sassella Rocce Rosse Riverva 2001 DOCG Valtellina Superiore, Arpepe, Itália, Alto Adige, Eu$ 100,00 (Exterior), RR = 92,0 e Grupo = 91,9.

Pareceu a todos ser bem mais novo do que de fato o é, demonstrando sua elevada qualidade. Uma DOCG pequena e com vinhos produzidos a partir da casta Nebbiolo, mas muito diferente que os vinhos do Piemonte.

Depois de degustar esses três vinhos, todos produzidos com Nebbiolo em pureza e todos muito diferentes entre si, veio à mente o quão enganados estão os “novatos” do mundo do vinho que acham que casta é importante. O que importa de fato é o terroir e o saber fazer.

Uma segunda questão que salta aos olhos é o fato de que as lojas “duty free” vendem vinhos muito simples, mesmo quando vendem um Barolo, escolhem um que não tem tipicidade (e por isso deve ter tido dificuldade de mercado). Qualquer pessoa que degustar pela primeira vez em sua vida um Barolo como o primeiro que degustamos hoje, terá uma noção totalmente equivocada de como são os vinhos destas colinas do Piemonte.

Mas a noite não terminou por aqui, como sempre ocorre com os Amis du Mouton. Foram degustados ainda dois brancos totalmente distintos entre si e bem fora do comum. Veja na descrição abaixo:

Primeiramente degustamos:

  • Riesling Noble Dragon nv, Changyu, China, Shandong, R$ 76,40 (wine.com.br), RR = 86,0 e Grupo = 85,0.

Uma curiosidade, um vinho produzido na China e que chega aqui por um preço inferior a muito vinho nacional de igual qualidade. O destaque foi a acidez deste vinho simples, para ser consumido jovem, sem grandes pretensões. Embora seja produzido a partir da casta Riesling (consta no rótulo; será mesmo?), não apresentou nenhuma tipicidade desta casta. Apesar de tudo, foi o melhor vinho chinês que já degustamos, pois os tintos “Grande Muralha” sempre foram ruins.

Por último degustamos:

  • Cuvée Madeleine 2016 AOP Gaillac, Château de Lacroux, França, Languedoc, RR = 90,0 e Grupo = 91,9.

O vinho surpreendeu a todos por ser bom e ao mesmo tempo “fora do padrão”. Apresentou a madeira totalmente equilibrada com as frutas cítricas e de caroço, além de um pequeno toque mineral. Ao ser degustado nada sabíamos sobre o vinho, mas identificamos que seriam castas pouco difundidas.

Para escrever esta matéria pesquisamos a ficha técnica do produtor (localizado perto de Toulousse) e constatamos nosso acerto, pois tem Mauzac (60%) e Len de l’el (40%), originárias de vinhedos de 30 anos de idade, e com passagem em barricas.

Uma noite de excelentes vinhos. Santé!

Gostou desta degustação e gostaria de participar de outras de mesmo estilo? Os Amis du Mouton estão com uma vaga em aberto, devido ao afastamento de um membro que vai ser papai em breve. Caso tenha interesse entre em contato.