Lembremos antes que, cobrindo 35% do vinhedo chileno, equivalendo a 390 milhões de litros de vinho por ano, a casta universal Cabernet Sauvignon continua sendo a mais destacada das uvas viníferas do Chile em volume, originando alguns dos melhores e mais caros vinhos das Américas.
Em termos de orgulho nacional, porém, a tinta Carmenère ocupa o imaginário enológico dos chilenos – e também dos consumidores internacionais – com sua casta emblemática, ainda que a superfície plantada não chegue a 10% do total dos vinhedos do país, aproximando-se atualmente de 100 milhões de litros por ano, pelo menos um terço destinado à exportação.
Durante anos cultivada no Chile como se fosse Merlot, teve sua real identidade revelada em 1994, quando testes de DNA indicaram que ela procedia de mudas de Grande Vidure (outro nome da Carmenère), trazidas de Bordeaux antes da filoxera, o que não deveria ser tão surpreendente na medida em que tem folhas diferentes da Merlot e amadurece duas semanas depois dela.
O nome Carmenère vem de Carmim, referindo-se à cor vermelha de suas folhas no outono, um adorno maravilhoso para a paisagem nessa época do ano, particularmente nos vales de Colchagua e do Cachapoal.
Nessas áreas de clima temperado, no Vale Central, 100 km ao sul de Santiago, com períodos longos de amadurecimento, a Carmenère encontra seu melhor desempenho, que não se repete nas áreas muito quentes de Coquimbo ao norte, como Elqui, Limarí e Choalpa e de parte do Vale de Aconcágua.
De cor rubi profunda, aromas de frutas negras e especiarias, taninos firmes, porém suaves, bom corpo para encorpados, os tintos da Carmenère são companhia de primeira para carnes vermelhas, comida chinesa, pato confit e magret e, certamente, para as tortas chilenas à base de milho.