No domingo 25 de setembro de 1983, o antigo Jornal do Brasil estampava em manchete: Ao alcance dos cariocas, a arte e a técnica que fazem um bom sommelier.
A matéria destacava a oferta de um curso de formação profissional pela recém-criada Associação Brasileira de Sommeliers, instalada inicialmente em Copacabana, em um “simpático sobrado da rua Constante Ramos anexo ao restaurante Enotria”.
Tratava-se do ápice de uma história que nascera com a realização da Copa do Mundo de Futebol, de 1978, na Argentina.
A Itália participara naquela competição com um grande time que incluía entre os titulares Zoff, Cabrini, Tardelli e Paolo Rossi. O grupo de suporte da delegação italiana contava, na sua área culinária, com o sommelier e chef Danio Braga, formado pela Faculdade de Enologia de Piacenza e que trabalhava no restaurante Trattoria dell’Orologio, de Busseto, na província de Parma, pertencente à sua família, há séculos.
Curiosamente, vinte anos mais tarde, Danio viria a acompanhar a seleção brasileira na Copa de 98, na França.
O Restaurante Enotria
Aproveitando-se de uma folga, em sua passagem por Buenos Aires, Danio viajou ao Rio, onde permaneceu por alguns dias, e, ao tomar conhecimento de seu mercado gastronômico, verificou a possibilidade de abrir um restaurante na cidade.
Encantando-se com o prédio da rua Constante Ramos, 115, perto da esquina com a rua Barata Ribeiro, em Copacabana, resolveu abrir ali sua casa brasileira. Alugou para isso o imóvel por um ano, pagando o aluguel adiantado, contando com os préstimos do advogado Jayme Bastian Pinto para os trâmites legais, deixando também a possibilidade da compra futura do imóvel.
Depois de um vaivém entre Itália e Brasil, deu continuidade à instalação do restaurante contando com o estagiário Liônio Ramos de Carvalho, que viria a ser seu sócio no empreendimento.
Finalmente, em setembro de 1980, Danio Braga inaugurava o Restaurante Enotria no Rio, depois de vender sua Trattoria, na Itália.
No início abria o restaurante somente para jantar; contava com um cozinheiro italiano e trabalhava no salão, em meio às mesas. Não servia nem cerveja nem refrigerantes, e abria espumantes de categoria, tendo para isso ajustado uma parceria na Itália com o produtor Umberto Cesari. Com o aumento do movimento contratou o garçom Arnóbio de Sá Ferreira, consolidando dessa forma, rapidamente, sua presença no Rio de Janeiro.
A Associação Brasileira de Sommeliers
O dia a dia no Enotria, fez Danio perceber duas coisas que o incomodaram: poucas pessoas bebiam vinho, e o serviço da bebida pelos ajudantes era precário.
Decidiu instalar, no andar de cima, uma sala de aula para turmas de 20 a 25 pessoas, no sentido de ampliar o consumo do vinho e melhorar o serviço.
Criou então, com a ajuda de Liônio e Arnóbio, a Associação Brasileira de Sommeliers, que estreou com o curso de Formação Profissional de Aspirantes a Sommelier, para o qual arregimentou e educou como professores o jornalista Célio Alzer e o engenheiro Edson Lencastre. Depois, a bartender Deise Novakoski, até então trabalhando em Niterói, na Trattoria Torna, e o engenheiro Fernando Miranda.
A primeira turma aconteceu de maio a agosto de 1983, e sua continuação, de setembro a novembro do mesmo ano.
A sede, à Praia do Flamengo
A ideia da Associação desenvolveu-se gradualmente ao longo dos anos 80 até tornar-se uma realidade, com o registro dos estatutos da Associação, elaborados com o suporte do advogado e enófilo Ivanir Tavares, com base nos estatutos da Association de la Sommellerie Internationale – ASI; a criação de um quadro de associados pagantes; e a transferência, em 1985, da sede e das aulas para uma sala mais ampla.
Tal espaço foi alugado no terceiro andar da Praia do Flamengo, 66, prédio recém-construído no local onde tinha sido fundado, em 1895, o Clube de Regatas do Flamengo.
Nos anos que se seguiram, a Associação adaptou-se às situações, aumentou o número de associados e participantes, particularmente com o início das viagens didáticas no Brasil e no exterior, com degustações dirigidas e cursos especializados.
Em 1987, por exemplo, teria lugar o primeiro curso de Vinhos Italianos, proferido por Célio Alzer.
Danio Braga permaneceu à frente da ABS Rio até o ano 1990, quando cedeu a presidência à Sra. Juarezita Santos, proprietária do restaurante Quadrifolio. Registre-se, porém que, em 1989 foi criada a ABS São Paulo, tornando-se necessária uma ABS de caráter nacional que abrangesse essas duas existentes e outras que viessem a existir. Danio permaneceu, então, como presidente da ABS Brasil.
Quando isso aconteceu, as bases da Associação, no Rio de Janeiro, estavam devidamente assentadas.
Para confirmar isso, dois anos depois, uma grande vitória da nova Associação viria a ser a realização, no Rio de Janeiro, do Concurso Mundial de Sommeliers de 1992, realizado com êxito no Hotel Intercontinental.