Em um passado que já conta mais de três décadas, um grupo de engenheiros brasileiros em Madri, de que eu fazia parte, foi convidado a almoçar, depois de uma reunião que nos tomou a manhã até as duas, em um restaurante nas proximidades do Estádio Santiago Bernabeu.
Curiosamente, os espanhóis com que tratávamos perguntavam já no almoço o queríamos comer no jantar, conversando sobre comida e bebida, e também sobre futebol, é claro, o que nos distraia das dificuldades e enfrentamentos nas discussões técnicas e comerciais.
Sabendo de meu interesse por vinhos, apresentaram-me ao imponente sommelier da casa como brasileiro e pediram-me que fizesse a escolha.
Sem olhar a carta perguntei diretamente:
– Tem o Viña Ardanza Reserva?
Surpreso ele elogiou a escolha respondendo:
– Claro. Grande vinho, excelente pedido. Já o conhecia? Tem no Rio de Janeiro?
Sim, eu conhecia e admirava esse tinto clássico de La Rioja Alta naquela época ainda classificado DO, Denominación de Origen. Todos ficaram encantados com o comentário do profissional, elegendo-me aos risos, certamente com laivos de ironia, o selecionador oficial de vinhos para o resto da missão…
De lá para cá, muitas coisas mudaram na Rioja.
O status de DO, por exemplo, foi alterado com a criação da DOCa, Denominación de Origen Calificada, no qual a Rioja foi a primeira a ser inserida.
Os vinhos dessa região do centro norte da Espanha apresentam-se tradicionalmente em 12 tipos, como é fácil de deduzir. Basta multiplicar as três sub-regiões Rioja Alta, Rioja Oriental – naquele tempo Rioja Baja – e Rioja Alavesa, onde são elaborados e envelhecidos, pelos 4 estilos em que se apresentam: Rioja, Crianza, Reserva e Gran Reserva.
Os vinhos dessa região do centro norte da Espanha apresentam-se tradicionalmente em 12 tipos, como é fácil de deduzir. Basta multiplicar as três sub-regiões Rioja Alta, Rioja Oriental – naquele tempo Rioja Baja – e Rioja Alavesa, onde são elaborados e envelhecidos, pelos 4 estilos em que se apresentam: Rioja, Crianza, Reserva e Gran Reserva.
Nessa dúzia de delícias a novidade é o moderno estilo Rioja, cuja expressão anterior, Joven, ainda aparece em alguns rótulos.
Atualmente, quando rotulado Rioja somente, trata-se de um Tempranillo básico frutado sem traços de madeira contrastando com os “Vinos de Crianza”, amadurecidos em barrica e envelhecidos na garrafa antes da expedição.
Também aqui uma novidade: os “vinos de crianza” riojanos são agora mais influenciados por barricas de carvalho francês, em lugar do carvalho americano tradicionalmente utilizados na região, o que significa um fim de copo com mais baunilha e menos cocada.
As castas também passaram por mudanças significativas. As variedades tradicionais da denominação Rioja, desde a criação do Conselho Regulador em 1925, eram sete, a saber:
- Brancas: Viura , Malvasía e Garnacha Blanca
- Tintas: Tempranillo, Garnacha, Mazuelo e Graciano
Os Rioja tintos eram tradicionalmente elaborados com Tempranillo, Graciano, Garnacha e Mazuelo; no século atual é mais frequente o uso só de Tempranillo e Garnacha.
Com a criação, em 2003, da Organización Interprofesional del Vino de Rioja – OIVR, houve mais mudanças na vetusta região, de forma que vale uma revisão do que sabíamos a respeito.
Por orientação desse órgão, o Conselho Regulador decidiu recuperar o patrimônio histórico acrescentando uvas autóctones regionais à lista. Foram, então, incorporadas novas variedades à lista, como as tintas Maturana Tinta, Maturana Parda e Monastel (não confundir com Monastrel) e as brancas Maturana Blanca, Tempranillo Blanco e Turruntés (não confundir com Torrontés).
Na mesma época resolveu-se melhorar a competitividade no mercado internacional com a autorização de três castas brancas de fora: Chardonnay, Sauvignon Blanc e Verdejo, com duas restrições importantes. Primeiro, só podem ser plantadas depois de arrancar uma quantidade equivalente de outra variedade para que não se aumente a massa vegetal da denominação; segundo, não podem predominar na composição final do vinho.
Outra tendência recente é a elaboração de vinhos monovarietais, contrariamente ao que se fazia no século XX, sendo agora comuns os tintos da Rioja 100% Tempranillo.
Mais novidades chegaram em 2017 com a aceitação formal nos rótulos das indicações: Viñedos Singulares e Vinos de Zona.
Finalmente, no ano de 2018, a Rioja lançou ao mundo sua nova mensagem de marca: saber quién eres, protagonizando a origem, a tradição e a diversidade dos vinhos da Rioja.
Muitas coisas mudaram. Mas a minha sugestão de um tinto Rioja Reserva maduro, se possível da Rioja Alta, essa permanece.