Acabo de receber um exemplar da Revista Veja de 1983, ano da fundação da Associação Brasileira de Sommeliers. São passados 33 anos desde então, uma geração inteira, portanto. Na capa a chamada “Vinhos finos nacionais: o Brasil melhora o paladar”. No interior uma reportagem com o título deste artigo.
Pelas notícias, o mundo não mudou muito: um dirigente sindical que se demite sob denúncia de fraude, o vice-presidente que se perde dizendo que “a credibilidade do governo não está sendo suficiente”, a renda do brasileiro andando para trás, a explosão de carros bombas no Kuwait…
Quanto ao vinho, não. Uma mudança radical no período.
Alguns hão de se lembrar das influências francesas e alemãs de então: os tintos nacionais mais vendidos eram Château Duvalier, Château Chandon, Forestier e Baron de Lantier de uma nobreza autoimposta. Entre os brancos Wein Zeller, Liebfraumilch, KatzWein e Johanesberg, impronunciáveis e, às vezes, ilegíveis em letras góticas, de estilo renano.
O nome do vinho não era tão importante. A Vinícola Aurora engarrafava um de seus vinhos como Dijon, para uma marca de roupas cuja musa era a esplendorosa Luisa Brunet.
E as preferências individuais? Para o colunista social Zózimo Barroso do Amaral, o Viamão Gamay…Para a colunável Kiki Caravaglia, o Château Chandon…Para José Vitor Oliva, então com 30 anos, o Wein Zeller e o Forestier Cabernet. Para o economista Eugênio Gudin, aos 97, “há alguns bebíveis…entre eles o Baron de Lantier…”. Coisas do passado, apesar de tão pouco tempo transcorrido.
Nem se poderia pensar, naquele tempo, em uma indústria vinícola gigante e moderna como a que representa as gaúchas Miolo e Salton e a catarinense Villa Francioni, entre tantas.