Celio Alzer
Celio Alzer é professor da ABS-Rio e consultor sentimental de queijos e vinhos

O Curso de Vinhos Italianos, realizado em maio, apresentou uma amostra bastante ilustrativa da produção da Bota, através dos treze produtos degustados.


. Ribolla Gialla 2012, Damijan (Friuli) – um ótimo representante dos chamados “vinhos laranja”, da região italiana pioneira nesse tipo de produto. A variedade (Ribolla Gialla, típica do Collio) também é usada no lado esloveno da região, com o nome de Rébula.

. Valpolicella Classico Superiore Ripasso 2014, Michele Castellani (Veneto) – não custa lembrar que produtos do tipo “ripasso”, em termos de complexidade e características organolépticas, são “primos” do Amarone, uma vez que cumprem um breve estágio sobre as borras daquele vinho. Daí, o bom corpo, a maciez, as notas de frutas secas e de tabaco – além, naturalmente, do preço bem abaixo da estrela maior de Verona.

. Arpepe Rosso di Valtellina 2014 (Lombardia) – produto pouco lembrado pelas importadoras brasileiras, é cem por cento Chiavenasca – o nome da casta Nebbiolo na parte mais alta da Lombardia. Outra curiosidade é que fermenta em grandes botti de três diferentes madeiras: castanheiro, acácia e carvalho.

. Barbera d’Alba “Scarrone” 2015, Vietti (Piemonte) – belo vinho, cem por cento Barbera, do cru Scarrone, vinhedo de ponta da família Vietti. Desde a criação do Bricco dell’Uccellone, de Giacomo Bologna, nos anos 1980, os Barbera experimentaram um notável salto de qualidade: até então vinhos sem grande expressão, passaram a formar na linha de frente do Piemonte, chegando muitas vezes a rivalizar com bons Barolo.

. I Capitelli 2011, Anselmi (Veneto) – o admirável representante doce do nosso curso poderia ser rotulado como um Recioto di Soave, uma vez que a vinícola está dentro dessa DOC e as uvas são submetidas ao appassimento. Mas Roberto Anselmi, por convicções pessoais, recusa-se a usar o nome Soave – embora utilize a uva Garganega in purezza em seus produtos. Aliás, nem precisa, porque seus vinhos têm personalidade própria.

. Verdicchio dei Castelli di Jesi Classico Superiore “Casal di Serra” 2014, Umani Ronchi (Marche) – pessoalmente, considero o Verdicchio um dos dois ou três melhores vinhos italianos para acompanhar peixes e frutos. Este, em especial, é excelente, porque as uvas vêm de um excelente vinhedo, do melhor produtor de Verdicchio – mais uma vez, minha opinião.

. Neromoro Montepulciano d’Abruzzo Colline Terramane DOCG 2013, Nicodemi (Abruzzo) – os irmãos Alessandro e Elena Nicodemi sabem das coisas: esse vinho é muito bom, num estilo clássico, sem concessões: carregado na cor, muita fruta madura, madeira equilibrada. E um custo/benefício ótimo: R$ 139,00.

.Cesanese Rubillo 2015, Principe Pallavicini (Lazio) – para mostrar que o Lazio não é só Frascati – quase sempre medíocre, a menos que a gente esteja sentado ao ar livre, numa praça de Roma, de frente para um bela fonte, num dia morno de sol –, trouxemos um tinto da uva Cesanese, até então inédita no mercado brasileiro e de origem incerta, embora se acredite que exista desde a época dos antigos romanos, pelo menos. Valeu a pena: um vinho fresco, sem passagem por madeira, que tem na fruta sua maior virtude.

. Chianti Classico Riserva 2012, Volpaia (Toscana) – o Chianti é um dos vinhos mais controvertidos da Itália, mas quando dá para ser bom, é bom mesmo. Este é um clássico – sem trocadilho, por favor. Não por acaso, recebeu as seguintes cotações: James Suckling = 93; Wine Enthusiast = 93; Gambero Rosso = 2 bicchieri; Wine Spectator = 91. Merece.

. Tanca Farrà Alghero 2011, Sella & Mosca (Sardegna) – a ilha, ou pelo menos a cidade de Alghero, deveria erguer um monumento ao engenheiro Erminio Sella e ao advogado Edgardo Mosca, porque esses dois piemonteses colocaram a Sardegna no mapa do vinho, quando fundaram a empresa, que tem hoje 550 hectares de vinhedos e pertence ao grupo Moretti. O Tanca Farrà é Cannonau com Cabernet , mezzo a mezzo, o que comprova que italianos e franceses, eventualmente, podem se dar muito bem.

. Etna Rosso 2015, Planeta (Sicilia) – clarinho que nem um Pinot Noir. Mas não se engane: esse Nerello Mascalese cem por cento, é vinho de raça, porque vem da DOC Etna, as terras do vulcão. Por isso mesmo, além da fruta exuberante, tem um exótico toque mineral.

. Paololeo Orfeo Negroamaro 2015 (Puglia) – a Puglia já foi considerada o celeiro da Europa e tinha como principal fonte de renda a exportação de tintos encorpados e alcoólicos para o norte da França e para a Alemanha. Ainda faz isso, mas hoje tem vinhos respeitáveis e até elegantes, acredite! Este é um deles, elaborado com a Negroamaro, uma das uvas clássicas da região, que pode ter vindo da Grécia em tempos imemoriais – a outra é a Primitivo, que também não é nativa da Puglia, mas isso é outra conversa….

. Taurasi Radici Riserva 2007, Mastroberardino (Campania) – nosso curso terminou em grande estilo, com este grande clássico do sul da Itália, feito com a casta Aglianico cem por cento. Aliás, se algum nome deve ser alçado ao panteão do vinho na Itália, é Antonio Mastroberdino, que dedicou sua vida a elaborar grandes vinhos e a preservar variedades ameaçadas de extinção. Com 11 anos de idade, este vinho está chegando ao apogeu, com um fantástico equilíbrio entre fruta madura, madeira usada com sensibilidade e taninos nobres. Uma experiência que a turma merecia!

Celio Alzer, maio de 2018.