Equipe ABS-Rio

Relato do encontro do GD 100A, em 03 de julho de 2019, redigido por Marco Aurélio C. Vianna

O Don Melchor é um vinho ícone do Chile, produzido pela Concha y Toro nos vinhedos de Puente Alto aos pés da Cordilheira dos Andes. O solo é rochoso aluvial, de origem vulcânica, com cascalho e pedregulhos resultantes de milhares de anos de erosão pelos glaciares andinos. É um solo pobre em nutrientes e com ótima drenagem de água, o que ajuda a limitar o crescimento vegetativo das videiras. O clima é mediterrâneo semiárido, com abundância de luz solar e influência dos ventos frios que descem da Cordilheira do Andes provocando grande amplitude térmica (diferença de temperatura entre o dia e a noite) durante o período de maturação. Este fenômeno favorece o amadurecimento dos taninos, aumenta a acidez e concentra os aromas e sabores de fruta.

A Vinícola Concha y Toro foi fundada em 1883 pelo empresário e político chileno Melchor de Concha y Toro, “Marquês de Casa Concha” pela Coroa espanhola, que plantou nas terras altas do Vale do Maipo, próximo a Santiago, sementes de cabernet sauvignon, merlot, carménère, sauvignon blanc e sémillon trazidas de Bordeaux. O potencial da cabernet sauvignon no vinhedo de Puente Alto foi reconhecido por Emile Peynaud em 1984 e a partir daí, com o trabalho do enólogo francês Jacques Boissenot e do enólogo Goetz von Gersdorff, a primeira safra do Don Melchor foi lançada em 1987. Na segunda safra, em 1988, o vinho é apontado pela Wine Spectator como um dos melhores vinhos do mundo. O enólogo atual, Enrique Tirado, que ingressou na Concha y Toro em 1995, passa a ser responsável pelo Don Melchor em 1997, e até hoje, em conjunto com o filho de Jacques Boissenot, Eric Boissenot, são os enólogos responsáveis pelo Don Melchor.

Tirado, consciente de que um bom vinho nasce no vinhedo, ano após ano, desenvolveu o conhecimento do vinhedo, identificando 7 parcelas distintas de cabernet sauvignon, que são vinificadas separadamente para, depois, fazerem parte do blend Don Melchor. Inicialmente o Don Melchor era 100% cabernet sauvignon, hoje podem fazer parte do corte a cabernet franc, petit verdot e merlot. A cabernet sauvignon mantém um mínimo de 90% na composição.

TABELA RESUMO

SAFRA ÁLCOOL CORTE COR REFLEXOS MÉDIA
2015 14,5 92%CS 7%CF 1%PV Rubi Violáceos 93,7
2012 14,5 93% CS 7% CF Rubi Granada 95,3
2009 14,7 96% CS 4% CF Rubi Granada 95,1
1996 13,3 100% CS Rubi Âmbar 94,6

OBSERVAÇÕES SOBRE OS VINHOS

2015: O mais jovem, mostrou um rubi com reflexos violáceos típico de um vinho jovem, aromas frutados de fruta fresca e um pouco vegetal; na boca um bom equilíbrio, embora com corpo e maciez inferiores aos 2012 e 2009. Na boca apresentou também um ligeiro amargor e vegetal, talvez devido aos taninos ainda jovens.

2012: Mostrou uma evolução na cor, em relação ao 2015, com rubi e reflexos ligeiramente granada; aromas continuaram frutados, mas já mostrando frutas vermelhas e pretas mais maduras; na boca muito bom equilíbrio, com maciez superior ao 2015, acidez presente e taninos macios sem amargor ou vegetal.

2009: Mostrando um pouco mais de evolução em relação ao 2012, apresentou uma cor rubi com reflexos granada, aromas continuaram bem frutados com as frutas um pouco mais maduras do que o 2012, na boca o mesmo bom equilíbrio que o 2012 com muita maciez, acidez e taninos presentes mas muito agradáveis.

1996: O mais envelhecido mostrou uma cor ainda rubi, mas com reflexos âmbar; no nariz continuou fragrante com aromas frutados de frutas bem maduras. Apesar dos seus 23 anos, dentro do tempo de guarda indicado pela vinícola de 25 a 30 anos, não foram observados aromas terciários, principalmente pelica ou couro. Na boca mostrou o mesmo bom equilíbrio do 2012 e 2009, com boa maciez, acidez e taninos presentes, mas atenuados pelo tempo. Para os amantes de vinhos etéreos, um vinho para guardar e verificar se os aromas etéreos se apresentam.

CONCLUSÃO

O Don Melchor se mostrou um vinho com ótima regularidade em que a qualidade e a estrutura se mantêm constantes ao longo do tempo e muito bom potencial para guarda. Pequenas alterações na composição de uvas foram introduzidas, mas a cabernet sauvignon continuou preponderante. Os cuidados com os vinhedos mostram uma preocupação com as uvas que serão usadas no vinho e são uma garantia de qualidade futura.

GRUPO 100A. Grupo avançado desde 2012 com 7 componentes.