Um grupo de engenheiros brasileiros em Madri, do qual eu fazia parte, foi convidado a almoçar depois de uma reunião que nos tomou a manhã até as duas, em um restaurante nas proximidades do Estádio Santiago Bernabeu, não longe do nosso hotel, no Paseo de la Castellana. Curiosamente, os espanhóis com que tratávamos, já no almoço, perguntavam o queríamos comer no jantar, conversando sobre comida e bebida, e também sobre futebol, é claro, o que nos distraia das dificuldades e desencontros nas discussões.
Sabendo de meu interesse por vinhos, pediram-me que fizesse a escolha. Sem olhar a carta perguntei diretamente ao sommelier: “Tem o Rioja Viña Ardanza Reserva?” Surpreso ele elogiou a escolha respondendo: “Claro. Grande vinho, excelente pedido, de quem sabe! Já o conhecia?”
Sim, eu conhecia e admirava esse tinto clássico da Rioja Alta, naquela época ainda DO – Denominación de Origen. Todos ficaram encantados, elegendo-me aos risos, talvez com laivos de ironia, o selecionador oficial de vinhos para o resto da missão.
O status de DO seria alterado em 1991, com a criação da DOCa, Denominación de Origen Calificada, na qual a Rioja foi a primeira a ser inserida.
Que os vinhos dessa região do centro norte da Espanha apresentam-se em 12 tipos é fácil de deduzir. Basta multiplicar as três sub-regiões Rioja Alta, Rioja Baja e Rioja Alavesa, onde são elaborados e envelhecidos, pelos quatro estilos, Rioja ou Joven, Crianza, Reserva e Gran Reserva, para confirmar. Nessa dúzia de delícias a novidade é o estilo Rioja, cuja expressão anterior, Joven, ainda aparece em alguns rótulos.
Atualmente, quando rotulado Joven (ou Rioja somente), trata-se de um Tempranillo básico frutado sem traços de madeira contrastando com os demais, chamados “Vinos de Crianza”, ou seja, vinhos amadurecidos em madeira e envelhecidos na garrafa antes de serem expedidos. Riojas modernos tendem a ser mais frutados e influenciados por barricas de carvalho francês, em lugar das barricas americanas tradicionalmente utilizadas na região, o que significa mais baunilha e menos coco no aroma do fundo do copo.
Tradicionalmente elaborados com Tempranillo, Graciano, Garnacha e Mazuelo, agora é mais frequente o uso somente de Tempranillo e Garnacha, ainda que a partir de 2007 tenham sido autorizadas as tintas autóctones Maturana e Monastel (não confundir com Monastrel), acrescidas, por questões históricas, para recuperar o patrimônio viticola regional. Tais novidades só podem ser plantadas depois de arrancar uma quantidade equivalente de outra variedade para que não se aumente a massa vegetal da Denominação.
Outra tendência recente é a elaboração de vinhos varietais, contrariamente ao que se fazia no Século XX, bem como exemplares provenientes de vinhedo único (Viñedos Singulares no rótulo) que se juntam como novidades do Terceiro Milênio na Rioja ao lado dos três tradicionais “Vinos de Crianza”, os baluartes da DOCa Rioja independentemente das novidades.