Se há uma unanimidade entre degustadores experientes é a percepção de aromas apimentados nos vinhos tintos da Syrah. Você pode encontrá-los também em inúmeros Cabernets e certamente em bons Carmenère chilenos. A mesma coisa se repete com o odor do pimentão em vinhos jovens da Cabernet Sauvignon e da Cabernet Franc, particularmente quando as uvas foram colhidas um pouco antes da hora, devido a algum acidente climático.

Pequeno fruto alongado da pimenteira, de aroma pungente e sabor picante e cálido, a pimenta (do latim “pigmenta” = condimento) teve origem na Índia e está disseminada agora pela Ásia Tropical e pela América Equatorial. No Brasil, nos estados do Pará e do Espírito Santo.

A reação orgânica à pimenta é curiosa: quando uma pessoa a ingere, a piperina estimula os sensores da  boca que transmitem ao cérebro uma mensagem de que estariam sofrendo queimaduras. O cérebro ordena ações de salvação, e os agentes entram em cena: a pessoa começa a salivar, transpira, lacrimeja, o organismo enganado fabrica endorfinas que provocam em seguida uma sensação de bem-estar. E tome mais pimenta…

Nos Shiraz australianos, nos Côte Rôtie e nos Hermitage do Rhône, nos Syrah/Shiraz chilenos e argentinos, ricos em notas de especiarias, mesmo os menos experientes hão de perceber essa nuance apimentada, que se deve à formação da substância Alfa-felandreno na fermentação, muito agradável quando diluída em meio ao frutado do vinho.

Já o pimentão é uma hortaliça tropical da variedade capsicum cujos frutos comestíveis, ricos em vitamina C e de sabor picante, merecem ampla utilização na culinária internacional. De origem chilena e mexicana, surgem nas cores amarela, vermelha e verde.

 

 

Seu odor vegetal deve-se à formação de isobutil-pirazina nos tintos das Cabernet e, às vezes, da Merlot. O nariz humano é muito sensível à pirazina, o que torna o aroma de pimentão relativamente fácil de ser percebido mesmo por iniciantes. Muitos o dão como um defeito. Pode até ser, pois reflete no vinho uma madurez apenas parcial das uvas. Mas não que seja desagradável, pelo contrário…