Os besouros são insetos bem conhecidos e fazem parte de uma ordem distinta de coleópteros inofensivos para o homem. Mas o que é Coleóptero? A palavra vem do grego koleos (estojo) + pteron (asas) e significa ‘estojo com asas’, devido à morfologia do inseto em que a parte da frente é uma capa protetora fixa e a de trás um par de asas rígidas escondendo asinhas internas delicadas, que ficam bem protegidas. Acionadas, as asinhas propiciam o voo ao “estojo”.
Quer dizer, o besouro não deveria voar e, no entanto, voa…
Algo parecido sucede com os aromas minerais do vinho. Para que uma substância origine um cheiro, ela deve alcançar o bulbo olfativo em quantidade suficiente para desencadear o envio da sensação ao cérebro do provador. Substâncias não voláteis são inodoras, portanto o vinho não deveria apresentar aromas minerais. E no entanto apresentam.
Que o digam o alcatrão no Barolo, o sílex no Chablis, a pedra de isqueiro no Sancerre, o grafite na Syrah, o petróleo nos Rieslings alsacianos e alemães.
Tive oportunidade de detalhar alguns deles no meu livro “Degustando Vinhos” (Editora Mauad X, Rio, 2016, 250 páginas).
O alcatrão, por exemplo, é um resíduo da destilação do carvão, de odor queimado. Surge timidamente em tintos da Nebbiolo envelhecidos em barricas de tostado médio para forte.
O sílex é um aroma primário mineral presente em Chardonnays de solo calcário, assinatura dos bons Chablis.
Pedra de isqueiro está presente, sob a forma química benzil-mercaptano, nos Sauvignon Blanc do Loire.
Hidrocarbonetos, como petróleo e derivados, propiciam aromas terciários minerais facilmente perceptíveis em Rieslings da Alsácia, do Mosel e da Nova Zelândia.
Resta como matéria controversa a origem de tais aromas no vinho, dando-se como certo que nada têm a ver com os minerais do solo. De qualquer forma, assim como o besouro não deveria voar, minerais não deveriam ser sentidos no vinho. Mas são.