Para os que não estão familiarizados, lembro que a área adequada para a vitivinicultura na Argentina estende-se, no sopé dos Andes, desde Salta no norte até o Rio Negro, na Patagônia, em  altitudes elevadas. Os solos, originados da decomposição da Cordilheira, são pobres em matéria orgânica e ricos em pedras e seixos; o clima é típico de zonas áridas com pouca chuva, muito calor no verão e elevada amplitude térmica. Tais características favorecem o desenvolvimento de cor e aroma nos cachos e a síntese de açúcar nos bagos, originando vinhos que estão entre os melhores do Novo Mundo e que rivalizam em qualidade com muitos europeus de renome.

Na parte sul do segmento que liga Salta ao Rio Negro, localiza-se Mendoza – a província vinícola mais importante do país, responsável por 75% da produção e 90% das exportações de vinho – e nela está  Luján de Cuyo, inserida na Zona Alta do Rio Mendoza. Considerada o habitat ideal para a uva Malbec, a área de Luján de Cuyo é origem também de tintos admiráveis de Cabernet Sauvignon e Syrah.

 


Pois bem, tudo isso é um preâmbulo para minhas impressões a seguir. Retornei eufórico de nossa reunião anual, na Bodega Otaviano – vinhos Penedo Borges – em Luján de Cuyo.

Não que a quantidade colhida na propriedade, inferior à de 2017, tenha sido das melhores. Pelo contrário.  Qualitativamente, porém, todos nós – sócios e técnicos da vinícola – estamos convencidos de que se trata da melhor colheita obtida no nosso vinhedo, desde que chegamos a Luján, há 14 anos.

Dou um exemplo: como a cantina não tem capacidade para elaborar toda a uva que colhemos, vendíamos parte para terceiros, o que era financeiramente favorável, pelo resultado a curto prazo. Porém economicamente desfavorável pelo baixo valor agregado. Pois bem, neste ano de 2018, depois de conhecer a extraordinária qualidade dos vinhos resultantes, resolvemos não vender uvas, elaborando as sobras com terceiros, privilegiando, assim, a parte econômica em relação à financeira com todo o desconforto momentâneo que isso possa acarretar.  A qualidade da safra 2018 em Luján de Cuyo justifica plenamente a ousadia de tal medida.