Lá se vão vinte anos desde que toquei pela primeira vez nos vinhos da África do Sul nesta série de Curiosidades. Na verdade, eles só tinham vindo à tona no mercado internacional após o fim do apartheid, em 1994, e naquela época tinha-se a impressão de que a uva emblemática do país – a Pinotage – faria a fama de sua vinicultura.

Isso não se confirmou na década seguinte, as exportações começaram a cair a partir de 2001, a Pinotage não vingou internacionalmente e os produtores tiveram que repensar a vitivinicultura local.

Fizeram isso com dedicação, novos vinhedos foram implantados e os antigos revistos no início do século XXI, com prioridade para Syrah e Cabernet Sauvignon entre as tintas e, mantendo a tradição local, Chenin Blanc entre as brancas.

A atividade de replantio foi de tal forma desenvolvida que, hoje, de acordo com reportagem de recente número da Wine Spectator, cerca de 80% dos vinhedos têm menos de 20 anos. Paralelamente, os equipamentos e instalações vinícolas passaram por importante processo de modernização à medida que os jovens enólogos locais trouxeram novas ideias depois de se especializarem no exterior.

Os resultados têm sido notáveis.

As exportações voltaram a crescer, a avaliação dos vinhos disparou. No citado exemplar da WS aparecem 7 tintos e 8 brancos sul-africanos com nota superior a 92, entre eles os nossos conhecidos Rust en Vrede, Hamilton Russel, Klein Constantia e Groot Constantia.

Entre as brancas, a tradição tem mantido Chenin Blanc, conhecida localmente como Steen, à frente das demais e isso não se alterou com a modernização. Mas não é difícil encontrar Chardonnay, Sauvignon Blanc e Sémillon nem as variedades do Rhône (Viognier, Grenache Blanc, Clairette, Roussanne e Marsanne).

Ainda que Cabernet Sauvignon e Syrah tenham se instalado no topo da hierarquia entre as tintas, Pinot Noir e Grenache também se distinguem ao lado de Cinsault, Touriga Nacional e outras.

Notei, muito recentemente, a presença renovada dos vinhos da África do Sul em restaurantes do Rio e São Paulo e imagino que isso vem acontecendo em outras cidades brasileiras refletindo essa forte investida com vinhos que mostram identidade, diversidade e adequada relação preço-qualidade.