Quando vertemos um vinho de sua garrafa para um decanter – recipiente incolor e transparente com a base bem mais larga que o gargalo – dizemos estar decantando a bebida. Existem umas poucas razões para fazê-lo, mas apenas uma é indispensável: quando o vinho se apresenta com sedimento ou borra, provocado pela deposição de taninos e pigmentos. Se esse sedimento não é separado e vem para o copo, o vinho há de parecer embaçado, sem brilho, e seu gosto terá algo impuro, desinteressante, com um toque de areia fina na língua.

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Outra razão seria simplesmente propiciar a suavização da textura de um vinho muito tânico; você pode experimentar isso com um tannat uruguaio jovem, antes e depois da decantação: a diferença pode ser notável.

Também a melhoria do leque aromático do vinho por meio do contato com o oxigênio pode ser uma boa razão para decantar, pois parece que o buquê do vinho apresenta-se mais “limpo” ao nariz, com o frutado mais saliente e agradável.

Já experimentei com sucesso uma quarta razão: a bebida apresentava-se com odor desagradável como se estivesse estragado. Estava por jogá-lo pelo ralo quando me ocorreu a idéia de, antes disso – era um vinho francês caro – transferi para o decanter, girei o vinho dentro do mesmo e o deixei descansar. Uns 20 minutos depois, retomei a análise olfativa e aquela sensação, possivelmente causada por compostos de enxofre, tinha praticamente cessado e o vinho estava em condições de consumo.

E há algo mais, que poderíamos dar como uma quinta razão: qualquer tinto parece mais apetitoso num belo Decanter, pois a boa aparência, como não poderia deixar de ser, nos influencia favoravelmente. A euforia da visão acaba se repetindo no olfato e no gosto.