abs-rio

por Maria Helena Tauhata

Estando em Vancouver, na costa oeste do Canadá, tive curiosidade em conhecer alguns vinhos da região. Apesar de estarmos no inverno canadense, sabidamente rigoroso, não podia deixar de fazer a tentativa.

O inverno em Vancouver, apesar de ser o menos rigoroso, é úmido. Chove diariamente e jocosamente se diz Raincouver e adota-se o guarda-chuva como símbolo da cidade. O território do Canadá situa-se acima dos limites desejáveis entre os paralelos recomendados para a atividade vinícola.

Vancouver está situada na Colúmbia Britânica, que junto com Ontário, são as duas únicas regiões com área demarcada, denominada VQA – Vintners Quality Alliance, que estabelece a obrigatoriedade da produção dos vinhos somente com uvas cultivadas e colhidas nessa área.

Colúmbia Britânica é uma região concentrada em um vale chamado Okanagan Valley, muito árido, de aspecto desértico, com grande amplitude térmica, variando de 35 a 8 graus centígrados entre o dia e a noite. Está próxima à fronteira do estado americano de Washington. Predomina a produção de vinhos brancos, mas há também os tintos de Cabernet Sauvugnon, Syrah, Pinot Noir etc. Apesar da Colúmbia Britânica  possuir quatro regiões, Okanagan Valley, Similkameen Valley, Fraser Valley e Vancouver Island, as vinícolas visitadas se situam em Langley, a 80km a leste de Vancouver, próximas a Okanagan Valley.  As vinícolas Estate, embora tenham seus vinhedos, dedicados ao cultivo de castas brancas no local, cultivam as castas tintas em Okanagan Valley devido ao clima mais quente e com maior incidência solar.

Seguem as vinícolas visitadas e os vinhos degustados:

  •  BACKYARD VINEYARD – Espumante Blanc de Noir de Pinot Noir, Riesling 2016, Merlot 2014  Naramata Bench, Cabernet Franc 2014 e Porch Tipo porto Ruby de Camble Valley.
  • TOWNSHIP 7 VINEYARD – Riesling 2016, Chardonnay 2015 50% em madeira, Merlot 2012, Blend corte bordalês CS, Merlot e Cabernet Franc.
  • GLASS HOUSE ESTATE WINERY – Viognier 2016, Cabernet Franc 2014, Pinot Noir 2013, Meridian 2013 15% de álcool, Austellus 2014 corte bordalês  CS, CF, Malbec e Ice Wine Gewurztraminer.
  • BLACKWOOD LANE VINEYARD & WINERY – Riesling 2014, Madeleine 2014 Syrah, “The Rebel” Syrah 2012, Vicuña Roja  2012 CS e Merlot, Cabernet Sauvignon 2010 3 anos de carvalho francês, Alliance 2009 corte bordalês e The Reference 2009 corte bordalês.

O que pude constatar desse rápido contato é o que já sabíamos: (1) que a produção vinícola no Canadá é, em sua maior parte, de vinhos brancos; (2) que a produção de vinhos tintos de Colúmbia Britânica se concentra em Okanagam Valley; (3) que há grande produção de vinhos com castas da vitis lambrusca; (4) que diferentemente da parte leste, o icewine, vinho ícone do Canadá, é também elaborado com vitis viníferas; (5) que a produção nacional se destina ao mercado interno, com alguma exportação para os Estados Unidos.

Os vinhos brancos possuem acidez bem presente, mas equilibrada, graças à fermentação malolática; e os tintos são leves, sendo alguns potentes, podendo envelhecer como o Alliance e Rebel, da vinícola Blackwood Lange, com alguma pretensão de guarda, cujo enólogo Carlos Lee, filho de mãe peruana e pai coreano, é bastante inovador e um apaixonado pelo vinho. A vinícola Glass House, do casal holandês Ingrid e Arthur Jang, apresenta como novidade rolhas de vidro em todos os seus vinhos, com exceção do icewine e de um tinto considerado de guarda. Foi aí que degustei um excelente icewine, elaborado com a Gewurzraminer.

Constatei também que o Canadá, assim como a Austrália e a África do Sul, continua elaborando vinhos tipo porto; e pude degustar um tipo Ruby na vinícola Backyard, muito agradável e bem feito.