Ana Maria Schall Gazzola

Grupo de Degustação 68A – junho/2016 – Monitora: Ana Maria Gazzola

Médoc

 

Médoc significa “terra do meio”, por estar situada entre o oceano Atlântico e o estuário girondino, e é uma faixa de terra que se estende do norte da cidade de Bordeaux até quase a foz do rio, espremida pela floresta de Landes ao sul e pelas áreas pantanosas da costa. A região costuma ser dividida em Bas-Médoc (no rótulo, apenas Médoc) e Haut-Médoc, a área mais nobre, com diversas AOC comunais.

O Bas-Médoc , menos famoso, pois seu “terroir” não apresenta algumas das vantagens de seu vizinho. O solo tem a camada de cascalho mais fina, e sendo argiloso, é mais pesado, sem a drenagem adequada, numa área que, pela proximidade do mar, já é mais úmida que o restante de Bordeaux. Muito plana e cortada por muitos canais resultantes da drenagem dos pântanos, a região concentra sua produção de vinhos nas áreas com mais cascalho e de altitude menos baixa. Devido ao clima e ao solo, a Merlot aparece aqui com mais frequência que a Cabernet, por se adaptar melhor ao solo argiloso e amadurecer mais rapidamente. Não há nenhum cru classé, mas muitos crus bourgeois da região possuem boa relação custo-benefício, em se tratando de Bordeaux.

Alguns châteaux de destaque: La Tour de By, Potensac, La Cardonne, Tour Haut-Cassan, La Gorre, Vieux Robin, Landon (revistaadega.uol.com.br/artigo/bordeaux-seus-crus-classes-e-a-hierarquia-de-seus-vinhos).

 

O Château La Tour de By é uma propriedade familiar de 94 ha e sua história data dos anos 1700. É situada sobre uma elevação de solo de cascalho girondino, entre o oceano Atlântico e o estuário do rio Gironde. O “domaine” foi promovido a Cru Bourgeois Supérieur após a revisão de classificação de 1932, efetivada em 2003.

Região: Bordeaux – Médoc. Vinhedo de 74 hectares, idade média das videiras de 45 anos. Este vinhedo é composto das castas nobres: 60% Cabernet Sauvignon, 35% Merlot e 5% Petit Verdot.

32 pessoas trabalham efetivamente na propriedade.

Desde a década de 1980, o manejo dos vinhedos deu prioridade aos métodos ecológicos na gestão de doenças e parasitas, a fim de minimizar o uso de produtos químicos.

Vinhos degustados

Membro da União de Grand Crus de Bordeaux, este grande vinho é feito usando métodos tradicionais do Médoc, com as castas: 65% Cabernet Sauvignon, 30% Merlot, 5% Petit Verdot.

Classificação legal: Bordeaux Cru Bourgeois Supérieur A.O.C

Características climáticas: clima temperado moderadamente úmido, com forte influência marítima do Atlântico e do estuário do Gironde, localizado a 300 metros dos vinhedos.

Características do solo: típica cobertura de graves (cascalhos redondos aluviais) sobre ”hardpan” de argila densa, proporcionando perfeita maturação às uvas.

Elaboração: método de cultura tradicional, sem defensivos agrícolas químicos. O rendimento é de 43 hl/ha, com densidade de 6.600 plantas/ha. As diferentes uvas são colhidas mecanicamente e vinificadas separadamente. Primeiramente são rompidas-desengaçadas e depois são postas a fermentar em cubas de madeira termocontroladas. O vinho é trasfegado dos sólidos após 5 semanas. Amadurece por doze meses em barricas de carvalho francês de 225 litros (sendo 25% novas) na cave de envelhecimento, perfeitamente climatizada e meio enterrada. Clarificação com albumina.

Diretrizes enogastronômicas: gigot de cordeiro com feijão branco, entrecôte ao molho marchand de vin, côtelettes de cordeiro marinadas com tomilho, alecrim e azeite extra virgem assadas sobre a brasa e servidas com flor de sal.

1. CHATEAU LA TOUR DE BY 13% 1995 – CHATEAU LA TOUR DE BY – BORDEAUX – FRANÇA  (Importado pela Decanter: R$ 471,90 – Preço para ABS: R$ 259,60)

Estágio da evolução: Beber – temperatura de serviço: 18°C.

Características organolépticas: coloração granada de média intensidade, límpida. O olfato é etéreo e reflexivo com folhas de tabaco, caça, especiarias e húmus. A textura acetinada em boca, revela um tinto nobre, maduro, com proporção e prazer (site do importador).

Premiações mais relevantes:

  • Decanter Magazine: 3 estrelas em 5
  • Wine Spectator: 88 /100
  • Decanter: 86/100
  • Jean-Marc Quarin: 85/100

Avaliação e análise do grupo: Monitora: 92,5 – média (4): 91,6 – Rubi escuro ainda com reflexos granada, bonita cor. Aromas muito complexos, desde compota de frutas até leve farmácia adocicada, musgo, violetas e rosas secas, especiarias, cravo, canela, tostados, feno cortado em decomposição e sous-bois. Muito elegante, de boa intensidade e persistência. Na boca, muito bom, super bem equilibrado, taninos corretos e completamente domados, final agradável e longo de compotas e especiarias. Melhorou muito na taça. Maduro.

2. CHATEAU LA TOUR DE BY 13% 2000 – CHATEAU LA TOUR DE BY – BORDEAUX – FRANÇA (Importado pela Decanter: R$ 404,50 – Preço para a ABS: R$ 222,50)

Estágio da evolução: beber ou guardar – temperatura de serviço: 18°C

Características organolépticas: coloração granada de média intensidade, límpida. Conjuga cassis e amoras confitadas com especiarias, couro, húmus e fino tostado. O passo em boca é apaixonante, com taninos perfeitamente dissolvidos ao conjunto de extrema sedosidade.

Premiações mais relevantes:

  • Decanter Magazine: 3 estrelas em 5
  • CellarTracker (21 notes): 87/100
  • Decanter: 86/100 – 2003 to 2010
  • Wine Spectator: 83/100
  • La Revue du Vin de France: 16/20
  • Jancis Robinson : 15.5/20 – sugerindo beber entre 2005 e 2009
  • Vinum Wine Magazine: 14.5/20 – sugerindo beber entre 2006 e 2012
  • Le Guide Hachette des Vins 2004: 2 Stars

Avaliação e análise do grupo: Monitora: 94,5 – média (4): 93,4 – Rubi escuro, reflexos levemente granada, bonita cor. Aromas complexos desde a fruta madura (como mirtille, amora, cassis, ameixa) a especiarias, canela, violetas e rosas secas, terroso, tabaco, hortelã, tomilho até couro, animal suado, sous-bois, de muito boa intensidade e persistência. Na boca agradou muito, muito bem equilibrado, taninos finos e maduros bem integrados às demais características, final caramelado e geleias, longo. Adorável e já prontíssimo para degustar.

3. CHATEAU LA TOUR DE BY 13% 2005 – CHATEAU LA TOUR DE BY- BORDEAUX – FRANÇA (Importado pela Decanter: R$ 166,80)

A safra de 2005: um tempo absolutamente perfeito deu um lendário vintage em Bordeaux. Os vinhos foram todos  ricos, aromaticamente equilibrados, com a expressão do terroir. Mas o que é notável é a universalidade do sucesso da safra.

Com uma bela cor rubi escuro, este vinho exala um nariz muito elegante de Blueberry (mirtille), BlackBerry (amora), acompanhado por uma bela paleta empireumática. Na boca é denso, concentrado e fresco, e sua trama tânica delicada dá a este vinho uma bela permanência. É um grande sucesso neste vintage. Nosso excelente vinho vem das belas parcelas acascalhadas de Cabernet Sauvignon (60%), Merlot (35%) e Petit Verdot (5%), e segue um amadurecimento de 12 meses em barricas de carvalho francês.

Premiações mais relevantes:

  • Decanter: 88/100 – sugere beber entre 2009 e 2017
  • Jancis Robinson: 16.5/20 – sugere beber entre 2012 e 2018
  • Le Guide Hachette des Vins 2009: 1 Star

Avaliação e análise do grupo: Monitora: 94 – média (4): 94 – Rubi escuro, sem reflexos, bonita cor. Aromas ótimos e muito complexos com a fruta preta e vermelha mais adocicada e menos compota, ameixas, baunilha, algo como capim fresco, temperos, especiarias, cravo, canela, noz moscada, alcaçuz, floral como jasmim e violetas, fumo, terroso, tostados, café a animal suado, de boa intensidade e persistência. Na boca mais pra pronto, de ótimo equilíbrio, muito fino e muito intenso, taninos finos e integrados ao conjunto, final frutado e longo. Adorável. Ainda pode esperar bom tempo, talvez uns 5 anos ou +. Gostei muito.

4. CHATEAU LA TOUR DE BY 13,5% 2009 – CHATEAU LA TOUR DE BY – BORDEAUX-FRANÇA (Importado pela Decanter: R$ 130,90)

2009: uma das maiores safras hedonistas, na linha de 1989, 1982, 1959 ou 1947. Os vinhos são deslumbrantes com uma doçura diabolicamente sedutora.

Estimativa de guarda: 12 anos +

Características organolépticas: coloração rubi intensa com halo purpúreo. Fragrante olfato de cassis, ameixa passa, tabaco, cedro e especiarias doces. Ingressa em boca com ótima densidade, os taninos ainda necessitam tempo para se integrar ao conjunto, muito típico. Longo final.

Diretrizes enogastronômicas: paleta de cordeiro assada ao forno, servida com legumes confitados; carnes de caça em longas cocções com ervas terrosas; seleção de queijos curados.

Premiações mais relevantes:

  • Falstaff Magazin: 90-92/100
  • Gilbert & Gaillard: 90/100
  • Jancis Robinson: 17/20 – sugerindo beber entre 2016 e 2026
  • Decanter: 83/100 – sugerindo beber entre 2013 e 2017

Tasting note: beautiful dark hue, young tints. Profound, delicate nose of ripe black berry fruits. The palate shows exemplary fullness, mellowness and harmony. Ripe, well-integrated tannins. Fruit expression underscored by a liquorice touch on the finish. Great appeal. (26-Nov-2012) Gilbert & Gaillard.

Tasting note: forward, fun value priced Bordeaux wine with licorice, black cherry and earth with an open, round styled personality. From a blend of 60% Cabernet Sauvignon, 35% Merlot and 5% Petit… (full tasting notes on the WCI website – 11-May-2012 – Jeff Leve, The Wine Cellar Insider).

Avaliação e análise do grupo: Monitora: 91,5 – média (4): 91,6 – Rubi escuro com nuances ainda púrpura, sem reflexos, bonita cor. Aromas complexos, com coulis de frutas pretas e vermelhas maduras, calda de especiarias, cravo, canela, noz moscada, violetas, terroso, tostados, café, alcaçuz, chocolate, feno cortado a notas frescas, de boa intensidade e persistência. Na boca, taninos mais rústicos e notáveis, mais exuberante, encorpado e macio, bem equilibrado, com final frutado e longo. Mas não encantou. Ainda pode esperar bom tempo, talvez uns 6 a 8 anos.

Conclusão

Esta experiência foi uma ótima aprendizagem: pela constância dos vinhos do produtor e a comprovação da evolução adquirida por cada um, de acordo com sua safra, pelas nuances observadas e o equilíbrio sempre presente em todos eles, comprovando serem grandes vinhos, mesmo não sendo nenhum deles um Cru Classé. Foi interessante também observar as avaliações individuais, que evidenciam a grande subjetividade nas a­­­nálises.