Aqueles que acompanham há algum tempo esta série sabem que reservo um a cada oito artigos para a vinicultura no Brasil, cujo desenvolvimento, nos últimos 25 anos, tenho acompanhado pessoalmente de perto. Dentre os 243 textos, este é o trigésimo terceiro.

Valho-me do excelente livro “Vinho Fino Brasileiro”, do especialista Rogério Dardeau, recém lançado pela Ed. Mauad X, para atualizar algumas informações a respeito da presença de uvas de origem francesa nos vinhedos brasileiros. Elas tem dado origem a vinhos nacionais cada vez melhores e mais presentes nas prateleiras de supermercados e casas especializadas.

Não tenho dúvida em começar pela Merlot, certamente a casta tinta emblemática da Serra Gaúcha, particularmente no Vale dos Vinhedos, e que vem se destacando também no planalto catarinense. Creio que alguns dos melhores vinhos tintos já elaborados na Serra Gaúcha – Miolo Lote 43, Salton Desejo, Lidio Carraro, Pizzato… tem Merlot no seu corte. Vocês hão de encontrá-la também em vinhos da Angheben, Boscato, Don Laurindo, Casa Valduga, Vallontano e assim por diante. São muitos.

Segue-se a Cabernet Sauvignon, a mais conhecida e procurada pelos brasileiros. Mais tânica e estruturada do que a anterior, adapta-se com facilidade a vários tipos de climas e solos, dando vinhos mais encorpados e longevos. Encontra-se no Vale dos Vinhedos, RS, como varietal ou em corte com Cabernet Franc e outras.  Por falar em Cabernet Franc, essa foi a primeira vitis vinífera a se firmar no Brasil. Nos anos 1970, a palavra Cabernet no rótulo significava Cabernet Franc. Nos anos 1980 entrou a Sauvignon e a suplantou.

Também a Syrah/Shiraz começa a aparecer através de exemplares da Lovara e da Miolo.

Uvas emblemáticas, respectivamente da Argentina e do Uruguai, a Malbec e a Tannat tornaram-se gaúchas também. Vide o Don Laurindo Malbec e o Tannat Don Giovanni. A Pinot Noir encontrou-se em São Joaquim, SC, onde a Quinta da Neve, entre outras vinícolas catarinenses, vem desenvolvendo seu cultivo, já tendo conseguido dessa casta difícil e refinada exemplares dignos de nota. Também em Santa Catarina, a Villagio Grando cultiva a rara Pinot Meunier, companheira da Pinot Noir na Champagne.

Registre-se, last but not least, as presenças da Petit Verdot e da Petite Syrah (nada a ver com a Syrah) no Vale do São Francisco, Nordeste do Brasil. Como se vê, uma  bem-vinda invasão francesa.